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Crítica do Filme Cazuza: O Tempo Não Pára

Cazuza – O Tempo Não Pára tinha tudo para ser uma cinebiografia emocionante e à altura do legado de um dos artistas mais autênticos e provocativos do Brasil. No entanto, o filme entrega uma experiência que, embora visualmente interessante em alguns momentos e sustentada por uma trilha sonora impecável, deixa a desejar ao aprofundar a complexidade do seu personagem central e dos eventos que marcaram sua trajetória.

Daniel de Oliveira é, sem dúvidas, o grande destaque do longa. Sua atuação apaixonada traz Cazuza à vida de forma visceral, reproduzindo com precisão os maneirismos e a energia incendiária que definiam o cantor. Seja em cenas íntimas ou em performances musicais intensas, Daniel demonstra uma entrega impressionante ao papel. Marieta Severo, como Lucinha Araújo, também brilha, capturando a dor, o amor e a força de uma mãe diante das escolhas e desafios do filho.

Ainda assim, é difícil ignorar os problemas estruturais do filme. O roteiro de Fernando Bonassi e Victor Navas opta por apresentar Cazuza como uma espécie de oráculo do rock, saturando seus diálogos com frases de efeito que soam artificiais. Essa abordagem não apenas simplifica o personagem, mas também subtrai sua humanidade e complexidade. Cazuza era contraditório, vulnerável e profundamente humano, algo que o texto falha em capturar.

Outro tropeço significativo está na narrativa fragmentada. Momentos importantes são tratados de maneira apressada ou simplesmente omitidos, como a relação com Ney Matogrosso ou os detalhes de sua decisão corajosa de declarar sua condição de soropositivo em um período de grande preconceito. Esses vazios comprometem a imersão e a compreensão do público sobre as motivações do artista e a evolução de sua carreira.

A decisão de mesclar imagens de arquivo com cenas recriadas também é problemática. Se por um lado resgata a autenticidade de eventos históricos, por outro expõe a disparidade de qualidade visual, quebrando a ilusão cinematográfica em momentos cruciais, como no Rock in Rio de 1985. Era uma oportunidade de ouro para consolidar a grandiosidade de Cazuza nos palcos e, infelizmente, o impacto é diluído.

Ainda assim, a trilha sonora salva o filme de cair no esquecimento. Canções como “Exagerado” e “O Tempo Não Pára” ecoam a alma rebelde e poética de Cazuza, sustentando a narrativa mesmo quando a direção tropeça. Há algo de poderoso em ver sua obra resistir e continuar emocionando décadas depois.

No final, o que resta é um retrato incompleto de um gênio indomável. O filme parece hesitante em mergulhar na profundidade do homem e no impacto histórico de sua coragem. Cazuza – O Tempo Não Pára é um lembrete do quanto o artista foi maior do que a obra cinematográfica que tentaram criar sobre ele. Apesar de suas limitações, a força e a autenticidade das canções do cantor são a verdadeira estrela, provando que seu legado permanece intocável.

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