O filme Deadpool foi um marco no universo dos super-heróis ao trazer uma abordagem irreverente, violenta e adulta para o gênero. Desde seu lançamento, consagrou o icônico Mercenário Tagarela, criado por Rob Liefeld e Fabian Nicieza, como um dos personagens mais queridos das telonas. Com humor ácido, violência gráfica e momentos politicamente incorretos, o filme abriu as portas para produções ousadas como Logan e, claro, sua própria sequência. O sucesso foi tanto que transformou Wade Wilson, interpretado por Ryan Reynolds, em uma figura lendária, especialmente depois do desastre que foi sua primeira aparição em X-Men Origens: Wolverine.
A essência sarcástica e metalinguística, com constantes quebras da quarta parede, é uma das forças de Deadpool 2, permitindo ao filme brincar com sua própria produção e com bastidores da indústria. É uma metalinguagem que diverte quem entende as referências e dá ainda mais personalidade à obra. Wade está de volta com piadas afiadas, cortes rápidos, referências ácidas à cultura pop e, curiosamente, momentos de seriedade que contrastam com toda a galhofa.
Enquanto o primeiro Deadpool tinha um vilão pouco memorável, sua sequência mergulha em uma história mais dramática. Somos apresentados a um futuro sombrio com a chegada de Cable, interpretado por Josh Brolin. O mercenário viajante no tempo está em busca de Russel, um garoto que carrega mais raiva do que esperança. Deadpool, por outro lado, embarca em uma jornada de redenção, repleta de ironia e referências a outras obras de super-heróis.
“Crianças nos dão a chance de sermos melhores do que éramos.”
Embora a química nos quadrinhos entre Cable e Deadpool seja icônica, no filme essa relação falta um pouco de polimento. A introdução de Cable parece abrupta, e a narrativa deixa a desejar em momentos que poderiam costurar melhor suas motivações. Da mesma forma, a tentativa de incorporar um tom dramático às interações de Wade com Vanessa (Morena Baccarin) também não encontra o equilíbrio ideal, pois o humor constante acaba diluindo parte do peso emocional que tenta transmitir.
Um dos destaques do filme é a amizade construída entre Deadpool e Colossus. O gigante de metal, sempre tentando inserir Wade na família dos X-Men, proporciona cenas hilárias e momentos cativantes. A computação gráfica na construção de Colossus também surpreende, equilibrando o cartunesco e o real de forma satisfatória.
A temática central de Deadpool 2 é a busca por pertencimento. Wade tenta encontrar estabilidade enquanto sua aparente indiferença o joga constantemente no caos. É nesse contexto que surge a X-Force, subvertendo a típica equipe heroica com personagens deslocados e totalmente desajeitados. O ponto alto dessa formação é a personagem Dominó (Zazie Beetz), cujo poder de sorte é explorado de forma criativa em cenas de ação inventivas. Seu papel brilha principalmente por trazer soluções narrativas que adicionam humor e dinamismo à trama.
O que não falta em Deadpool 2 são piadas recheadas de referências, exigindo do espectador certo repertório de cultura nerd e pop, principalmente americana. Pautas modernas e questões do politicamente correto também são abordadas de forma debochada, com Wade apontando o dedo ora de forma certeira, ora de maneira exagerada.
Com um orçamento maior que seu antecessor, o filme aposta em sequências de ação mais elaboradas e em computação gráfica que, embora não seja impecável, entrega momentos marcantes, como no design de personagens cruciais para a narrativa. A direção de David Leitch traz um toque diferente nas cenas de ação, e os créditos iniciais e pós-créditos são pequenos espetáculos à parte.
Embora Deadpool 2 tente se pintar como o “Logan” da comédia, ele não consegue atingir o mesmo nível de profundidade dramática. Ryan Reynolds entrega uma performance memorável, mas está longe de alcançar o peso emocional que Hugh Jackman trouxe ao Wolverine. Ainda assim, o filme mantém uma espirituosidade única, superando o primeiro em termos de humor e ousadia.
Para fãs de super-heróis e, especialmente, para quem gosta de ver o gênero sendo levado à zoeira, Deadpool 2 é uma escolha certeira. Com ação, piadas, e aquele toque meta que só Wade Wilson poderia proporcionar, o filme é um deleite hilário que, mesmo com falhas, conquista o público.
Deadpool 2
Direção: David Leitch
Elenco: Ryan Reynolds, Zazie Beetz, Josh Brolin
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