Análise Crítica do Filme só deus perdoa

Análise Crítica do Filme Só Deus Perdoa: Vale a Pena Assistir?

O mais recente trabalho do renomado diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, Só Deus Perdoa, não é um filme fácil de assimilar. A expectativa do público pode ser frustrada, pois o que se espera nem sempre corresponde ao que é apresentado, exigindo do espectador uma tentativa constante de compreender a preferência do diretor pelo estilo em detrimento da narrativa.

Apesar disso, a produção consegue manter a atenção, mesmo para aqueles que não apreciam longas sequências silenciosas ou as cenas de violência extrema. Contudo, Refn está longe de repetir o sucesso de Drive, seu filme anterior que rapidamente conquistou status de cult. Enquanto Drive combinava fotografia envolvente, trilha sonora impecável, atuações que remetiam aos clássicos de Sergio Leone e uma trama linear e cativante, Só Deus Perdoa aposta bastante na simbologia e no impacto visual.

Neste filme, a cor vermelha é usada de forma constante e simbólica, representando o inferno em que vivem os protagonistas Julian (Ryan Gosling) e Billy (Tom Burke), irmãos envolvidos no tráfico de drogas em Bangkok, que utilizam uma academia de boxe como fachada. A narrativa ganha um tom ainda mais sombrio quando Billy comete um crime brutal contra uma jovem local.

A partir disso, um misterioso policial aposentado, Chang (Vithaya Pansringarm), é convocado para resolver o caso de uma maneira nada convencional: ele obriga o pai da vítima a assassinar Billy e, em seguida, pune o pai de forma severa, utilizando uma katana, numa tentativa de restaurar um equilíbrio moral na trama.

É importante destacar que essa descrição linear não traduz completamente o que se vê na tela. O filme é marcado por poucos diálogos e por uma iluminação vermelha intensa que permeia todos os cenários, desde a academia até o bordel frequentado por Billy, passando pela casa da menina assassinada. Os personagens não são desenvolvidos como pessoas comuns, mas sim como arquétipos ou símbolos: Billy representa a fúria descontrolada, Chang a justiça implacável, e Julian a vingança. Ryan Gosling, sob a direção de Refn, entrega uma atuação ainda mais contida e impassível do que em Drive, enfatizando essa transformação dos personagens em forças quase elementares.

Após a morte de Billy, a mãe dos irmãos, Crystal (Kristin Scott Thomas), uma figura mafiosa poderosa, retorna a Bangkok para garantir que a vingança contra o responsável seja consumada, custe o que custar. Julian, embora atormentado, não consegue se desvincular da influência materna, demonstrando um conflito interno profundo que chega a ser perturbador em certos momentos do filme.

Refn explora intensamente recursos como a câmera lenta, closes prolongados e sequências demoradas nas quais pouco acontece. Quando surgem cenas de ação, elas são marcadas por uma violência exagerada e quase caricata, principalmente nas mãos do personagem Chang, cuja postura misteriosa e quase mística pode, inadvertidamente, provocar risadas constrangidas no público.

Essa abordagem do diretor cria um distanciamento entre os personagens e o espectador, transformando-os em símbolos e dificultando a empatia. Por isso, Só Deus Perdoa pode ser uma experiência desconfortável e de difícil assimilação. A fotografia, com seu predomínio de luz artificial e tons vermelhos, é visualmente impactante, resultado da colaboração entre Refn e o diretor de fotografia Larry Smith, que já trabalharam juntos anteriormente.

Entretanto, a beleza visual não é suficiente para sustentar os 90 minutos de duração do filme, que se arrasta devido a uma edição pouco dinâmica assinada por Matthew Newman, colaborador frequente do diretor. A trama é enxuta, e as longas tomadas com cortes abruptos podem afastar aqueles que buscam mais conteúdo e menos estilo.

A trilha sonora, por sua vez, apresenta escolhas pouco convencionais que acabam criando momentos de anticlímax, enquanto as cenas surreais de karaokê protagonizadas por Chang provocam risos que parecem destoar da seriedade do filme.

Em resumo, Só Deus Perdoa é uma obra que valoriza o estilo acima de tudo, merecendo reconhecimento por sua estética e ousadia. No entanto, falta-lhe a estrutura narrativa e a profundidade necessárias para justificar sua duração, funcionando mais como uma experiência sensorial e simbólica do que como uma história tradicionalmente envolvente.

Perguntas Frequentes:

  1. Qual é a principal diferença entre “Só Deus Perdoa” e o filme anterior de Nicolas Winding Refn, “Drive”?
    Enquanto “Drive” apresenta uma trama linear e cativante com fotografia envolvente e trilha sonora impecável, “Só Deus Perdoa” aposta mais na simbologia, no impacto visual e na estética, com poucos diálogos e uma narrativa menos convencional, focando no estilo em detrimento da narrativa tradicional.
  2. Como a cor vermelha é utilizada no filme “Só Deus Perdoa”?
    A cor vermelha é usada de forma constante e simbólica, representando o inferno em que vivem os protagonistas, permeando todos os cenários do filme e reforçando o tom sombrio e intenso da história.
  3. Por que “Só Deus Perdoa” pode ser uma experiência desconfortável para o espectador?
    Devido à sua narrativa simbólica, poucos diálogos, longas sequências silenciosas, violência extrema e personagens que funcionam mais como arquétipos do que pessoas comuns, o filme cria um distanciamento que dificulta a empatia e torna a assimilação da obra mais complexa.
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